FALTA DE DISPOSIÇÃO? TOME TERERÉ

15-10-2011 22:13
ESTUDO DO CAMPO SEMÂNTICO-LEXICAL DAS ERVAS UTILIZADAS NO TERERÉ

Francielly de Souza Carvalho, Maria José de Toledo Gomes

Resumo

Essa pesquisa teve como objetivos identificar, avaliar, e interpretar as lexias referentes aos remédios utilizados no tereré pela população paraguaia. Foram analisadas 31 entrevistas e selecionados os dados referentes ao costume de tomar tereré e às plantas utilizadas, buscou-se os elementos referentes ao nome cientifico e as propriedades das plantas, principalmente na obra de Balbach e ainda no dicionário Aurélio. Nota-se que o paraguaio alia o prazer de tomar tereré nos momentos de descanso à busca pela saúde, empregando os
conhecimentos herdados, principalmente dos guarani e que já estão sendo partilhados conosco, já que o tereré está a cada dia mais presente em nosso cotidiano tornando-se parte de nossa cultura também.


Palavras chave: Plantas medicinais. Léxico. Paraguaio


ABSTRACT: This research aimed to identify, evaluate, and interpret the lexias relating to rem, 31 interviews were analyzed. Selected data in the habit of taking Tereré and plants used, it was the evidence concerning the
name and the scientific properties of plants, especially the work of Balbach and in the dictionary Aurélio. Note that the Paraguayan combines the pleasure of drink Tereré in moments of rest with search for health, using the knowledge inherited, primarily from the guarani and this shared with us, because that Tereré is the ever more present in our daily life becomes part of our culture too.

Key words: medicinal plants. Léxico. Paraguayan.

INTRODUÇÃO

A linguagem é uma das principais características do ser humano, já que, através dela, o homem exterioriza as representações mentais formuladas individualmente. Além dessa propriedade de manifestação sonora, há toda uma rede de significações que representam o universo sociocultural do falante. Elia (1987-47) explica que a língua pode ser estudada sob diversos aspectos, no entanto, para a propagação da cultura esta deve possuir o sentido de “Língua Histórica”, ou seja, de língua como projeção na massa fônica das virtualidades que as vivências e vicissitudes do estar -no- tempo que em uma comunidade despertam e atualizam.”

A cultura é o modo pelo qual cada comunidade se expressa seu modo de pensar, agir, sua religião, a comida, enfim, a cultura se manifesta tanto sob aspectos físicos quanto intelectuais. Laface (in Ciências do Léxico, 2004-39) afirma que: “A diversidade cultural é reconhecida pelo que se situa na convivência com a história; presença do ato de linguagem no
sistema de representação”. Já Elia, (1987, 47-48), conceitua cultura em oposição à natureza: Natura, natureza, é tudo aquilo que foi dado ao homem pelo Criador e que, portanto, não é realização da criatura: terra, mares, ares, plantas, o universo enfim. Pelo contrário, tudo que resulta da ação do homem sobre a natureza e sobre si mesmo pertence à cultura, no sentido amplo e antropológico do termo: habitação, meios de
transporte, vestuário, culinária, magia, religião, ciência, letras e artes. A cultura pode ser, pois material ou espiritual. As línguas, porque foram estruturadas pelo homem, são produtos culturais – e por isso são diferentes. A natureza se repete, a cultura se transforma.

Na pesquisa sociolingüística, é notável a correlação língua e cultura, já que a linguagem, como afirma Elia, sendo estruturada pelo homem torna-se automaticamente produto cultural e tanto a língua quanto a cultura, de modo geral, determina as características de cada comunidade, independente de sua localização e de seu tamanho. Na verdade, porém, o que está aí afirmado é o princípio irrecusável da permeabilidade das culturas; e, em conseqüência, o fato normal da “aculturação”. O que importa, porém, é a definição do princípio unificados das culturas, aquilo que as singulariza, enforma e conforma. (ELIA 1987-51)

A cultura paraguaia é muito rica, com expressões que provém de indígenas e espanhóis, influenciando grandemente os habitantes do nosso estado, principalmente os do sul. A permanência do paraguaio em nosso estado após a Guerra da Tríplice Aliança, ocorreu, entre outros motivos igualmente importantes, pelo fato de os imigrantes constituírem mão de obra barata e especializada. Dessa forma a cultura do mate começa a imprimir aspectos peculiares na vida do povo dessa região e se mantém, desde a vinda dos espanhóis - quando por meio da fé os jesuítas buscavam conquistar os indígenas -, após a Guerra da Tríplice Aliança e até os dias de hoje, fazendo com que o hábito de tomar tereré, ao lado do ciclo econômico da erva mate permanecesse como elemento marcante na cultura do paraguaio. A utilização da erva mate como bebida e também para outros fins vem dos Guaranis e já foi assimilado principalmente pelos moradores do Estado de Mato Grosso do Sul, como
parte de sua cultura também, o que comprova que a cultura se transforma e também pode ser apropriada. Para o paraguaio o tereré não é apenas uma bebida refrescante, além de propiciar o momento de convívio social que as rodas de tereré estabelecem, há o costume de colocar plantas na água ou na erva que podem curar doenças. Esse costume de incorporar ervas ao tereré faz com que esses “remédios” sejam consumidos metodicamente a intervalos regulares. Junto com o tereré vem a história da herança que parte dos Guaranis e segue pelos
trabalhos nos ervais, desde o momento de descansar e reunir-se para conversar com amigos e familiares e, principalmente, o aspecto que pretendemos focalizar em nossa pesquisa: os remédios utilizados junto com a erva, identificando a origem das lexias que representam essas
plantas.

Dessa forma tivemos como objetivos identificar, avaliar, e interpretar as lexias referentes aos remédios utilizados no tereré pela população paraguaia. Buscando as lexias referentes ao campo semântico do tereré, em entrevistas realizadas pelo grupo de pesquisa. Partindo das lexias relacionadas a erva mate, a preparação do tereré, aos aspectos do convívio social compartilhado por meio do tereré e, sobretudo, às plantas
medicinais incorporadas ao tereré que também denotam a herança cultural do paraguaio elaboramos algumas tabelas para sintetizar os dados obtidos, buscando, dessa forma, novas proposições acerca do assunto. Capitulo V- Apresentação dos resultados Nos relatos dos informantes percebe-se que todos utilizam a erva mate, seja no tereré
ou no chimarrão e, ainda, um amplo conhecimento relacionado às plantas medicinais, tanto as que utilizam no mate quanto as que tomam de outras formas em busca de curar ou prevenir doenças. Dessa forma, vejamos como se dá o costume do paraguaio com relação ao tereré e aos
remédios nele utilizados, identificando as principais lexias referentes a este campo semântico.

5.1- O tereré

Buscando a acepção do termo tereré no dicionário Aurélio temos:
Tereré [De or. guarani, poss.] Substantivo masculino. 1. Bras. S. MT Refresco de mate, sorvido com bombilha, e que se distingue do chimarrão por ter água fria em vez de água quente.
2. Bras. Pop. Conversa, papo, que se tem durante a merenda, entre os dois turnos de serviço. (dicionário Aurélio)
O tereré na primeira acepção do dicionário Aurélio é colocado em oposição ao chimarrão, isso se dá principalmente pela relação de contrariedade estabelecida entre quente e frio, esse antagonismo indica os processos naturais do ser humano, tudo se encontra em oposição, assim como há o frio, há o calor, como há a saúde, há a doença, e assim por diante, Wortmann observa que: As categorias quente e frio transcendem o domínio dos alimentos. Poder-se-ia dizer que são categorias cosmológicas globais, onde se opõe o dia e a noite; o sol e a lua;

o nervoso e o calmo; o racional e o emocional; a luz e a escuridão. Todo universo se classifica em quente ou frio. No Brasil, plantas são frias ou quentes, como o são também os solos. Porém, se de um lado as categorias se opõem, de outro elas se combinam, e é de sua combinação equilibrada que depende a harmonia universal. Em Sergipe, consorciam-se plantas quentes com outras frias para que o roçado
“prospere”. Uma dieta equilibrada deve combinar comida quente com comida fria. Se o dia é necessário, à noite o é igualmente, e deles precisamos em doses iguais. (Klass Axel A. W. Woortmann Doutor em antropologia pela Universidade de Harvard Universidade de Brasília)
(O sentido simbólico das práticas alimentares p. 28)

Assim como alimento, o tereré serve para repor as energias e estabelecer certas relações sociais. O segundo sentido que o dicionário expõe refere-se à forma popular na qual são chamadas as conversas em intervalos de serviço, comprovando o caráter social estabelecido pelo tereré. Os informantes deixam explícito o prazer que encontram no momento de tomar tereré ou chimarrão, pois, as rodas de tereré, principalmente, proporcionam o convívio com os amigos com a família para uma espécie de pausa em que, se podem contar histórias, conversar
e se refrescar ao mesmo tempo.


“(...) o tereré é assim é... o motivo que as pessoas reúnem assim pra conversar. Pra fica la todo mundo junto (...)” (1f1)

O costume de ingerir essa bebida se dá principalmente nas rodas de tereré que serve como pretexto para conversar e passar o tempo. Contudo, os informantes não descartam a possibilidade de tomar tereré sozinhos quando não há companhia.

“I- Eu bebu cum amigo, i quandu num tiver amigo em casa eu tomu sozinhu nu
seviçu eu tomu com companheiru nu serviçu.” ( 5m2)
Além dos semas quente e frio, que diferenciam o tereré do chimarrão há a erva
diferenciada, “I- noi prepara u chimarrãu com erva né é... cun erva de manhã cedu nóis toma
só que tem um tipu de erva pra pra mate né i tein outro qui é pra tereré. ” (1m1), a erva do
chimarrão geralmente é mais fina enquanto a do tereré por ser processada de forma diferente é
grossa, com talos e pedaços de folhas perceptíveis, porém, nem todos os informantes afirmam
ser necessário utilizar essa erva diferente,“(...) i erva não importa não precisa ser chimarrão
podi ser a erva normal di terere.” (3m1). Para este informante, predomina o uso da erva
própria para o tereré mesmo quando utilizam água quente.
Os informantes nem sempre especificam os utensílios para o preparo do tereré,
geralmente utiliza-se cuia ou guampa, a bomba e a jarra com água gelada.
A guampa é o recipiente mais comum para a preparação do tereré e consiste numa
vasilha feita de chifre, contudo, os informantes afirmam ser dispensável o uso desta, utilizam
também copos e até mesmo latas para o preparo da bebida. “I- A genti ponhi na na na lata,
ponhe a bomba, a água gelada i toma. I sempri vai tomar” ( 5m2). O informante 3m1 afirma
que, “tem qui ser um copu di inox porque eu odeio copinho de vidro porque ele não conserva
a temperatura.”
Geralmente o tereré é tomado apenas no calor, enquanto o chimarrão toma-se de
manhã e a tarde, “I-terere: toma no tempo calo né... calor assim... e chimarrão cedo e a
tarde...” (H, f.69.) Com relação à forma na qual o tereré deve ser tomado 3m1 relata que “u tereré tem
qui ser preparadu com bastanti gelu o remediu refrescante que geralmenti aqui nu paraguai
não tem que faltar duranti u dia; à tarde já não a tarde é somenti água e gelo sinão eli baixa
toda a pressão.”
O remédio refrescante não serve somente para refrescar, mas também possui contra-
indicações por tratar-se de plantas com propriedades medicinais e como explica o próprio
informante se tomado à tarde pode fazer mal, baixando a pressão.
Este remédio refrescante corresponde ao jujo: uma variedade de ervas acrescentadas
geralmente à água do tereré, no Paraguai essas ervas são preparadas e vendidas no mercado.
De modo geral, todos os informantes mencionam a utilização dos remédios no tereré e no
mate, porém nem todos, citam os remédios que costumam tomar, nem a utilidade de cada um.
Dentre os benefícios e males trazidos pelo costume de tomar tereré ou chimarrão,e a
utilização da ervas incluindo a erva mate, causa síndrome da abstinência a informante O.C.f
afirma que “I- é purque yo quandu num tomu u mati da dor di cabeça se eu tomu u mati já
pronto num precisa nem toma café cedu”, percebe-se dessa forma a falta do mate causa
sensação desagradável na informante.
Um aspecto interessante, que nos remete a cultura indígena é o outro nome dado a erva
mate no paraguai Ca’a, que em guarani: “Ca-a= “bot. erva; erva-mate; mata, bosque. (tupi:
Ca-a, mato, folha, erva).”( Tibiriçá p.36) “I- o nomi da erva é CA’ A pra nóis é Ca’A o nosso
mate em guarani CA’Aul terere é terere ai chama a cumadi ou cumadi judu CA’a u”( V.C.f)
Este nome que podemos relacionar com o nome de uma das principais referências
religiosas do Paraguai a virgem de Caacupé, a santa da erva, o informante 2m1 conta que:
Eu era bem pequeno assim eu tinha, andava doente, doente né, ai o médico já num
deu mais aquela esperança né pra minha mãe que eu ia vive nada, num deu mais
esperança, num tinha nem lugar mais pra injeção pra mim nada...(..) aí falo pra ela
leva o seu filho pra descansa em casa falo pra minha mãe, ai diz que a minha mãe
levou um chorou bastante que ela durmiu assim, acabou durmindo e coloco dez que
eu numa rede que tinha assim aí diz que apareceu uma senhora morena né, diz que
me ergue no colo ai falo pra minha mãe falo assim, seu filho num vai morre ai falou
assim é so a senhora seguir certinhu esse remédius que eu vo fala pra senhora tudo
remédio de lá né (..) ai falo pra ela uns remediu do Paraguai lá era rabu de ta é não
coro de tatu era cor de jacaré qe eu me lembro , que a minha mãe conto vie e me
conta a história pra mim né.. e uns remédios de planta né ai fez eu toma aquela, é
que ela tinha dito, ai foi a continha né ai te hoje ela falo essa santa é sua madrinha
essa santa te salvou ela fala que até tem a imagem dela aqui na praça praraguai a
nossa senhora de cacupe...é a santa da erva.
Nesse relato podemos constatar não só os elementos que constituem os conhecimentos
relacionados à medicina natural, mas também a força que o elemento fé tem para esses
informantes, já que para o informante não foram só os remédios que o curaram mas a santa
que o salvou, sendo que não havia mais salvação nem a medicina tradicional poderia tratá-lo. Gimenez em seu trabalho sobre o Estudo do vocabulário relativo às devoções
religiosas dos paraguaios católicos radicados no mato grosso do sul (2008 p.19) verifica que
“a crença no santo é essencial para que a devoção exista, sendo assim uma questão de fé, de
se acreditar sem maiores definições”.
Evidencia-se que todos esses conhecimentos sobre as plantas e o hábito de tomar
tereré acrescentando essas ervas foram transmitidos por gerações, já que quando questionados
sobre com quem aprendera sobre as plantas, grande parte dos informantes confirmam que foi
com seus pais.
“I- olha eu aprendi com a minha mãe minha mãe u pai né qui ensino ela e elha intaum
vai vai gerando né (risos) geração” ( V, f)
O campo semântico do tereré para o informante paraguaio não se refere somente a
erva mate e aos utensílios para a preparação deste, as plantas e o conhecimento adquirido, são
essenciais para este povo ampliando esse campo semântico.
Os principais semas encontrados são motivo de reunião, erva mate, copo, bomba água,
gelo, jujo ou remédio refrescante sendo que este último se encontra dentro da categoria dos
remédios. Vejamos as diversas plantas que o paraguaio utiliza.

5.2- As plantas medicinais

O paraguaio apresenta um amplo conhecimento relacionado às plantas, e em seus
relatos observa-se que é essencial o uso destas no tereré, cada planta é utilizada com
determinado fim, alguns asseveram não adoecer devido ao hábito de incorporar uma ou mais
plantas ao tereré e no mate.
A erva mate é a matéria prima para o preparo do tereré, contudo, nenhum dos
informantes discorre sobre a erva em si, vejamos a definição dada pelo dicionário Aurélio:
Erva-mate “[De erva + mate.] Substantivo feminino. 1.Bot. Planta da família das
aquifoliáceas (Ilex paraguariensis), de cujas folhas se faz um chá saboroso e muito apreciado
e saudável; mate. [Sin., bras., S.: congonha. Pl.: ervas-mates e ervas-mate.]”
Como já citamos a própria erva mate além de ser conhecida pelo seu sabor, também
possui caráter benéfico à saúde, sendo utilizada no tereré, no chimarrão e também em forma
de chá.
A seguir listamos as plantas citadas pelos informantes, o nome popular, o nome
científico, a família a qual pertencem, e suas funções. Cancrosa: “(Maytenus ilicifolia) Família: Celastráceas. Sinonímia: Espinheira-santa,
espinheira-divina, salva-vidas, sombra-de–touro, cancerosa, maiteno, limãozinho.” (Balbach
p.619) “analgésica, diurética, cicatrizante (pó ou suco); curar pólipos nasais; gastralgias;
cozimento das folhas, contra febres graves, moléstias do fígado e dos rins; lavar feridas e
úlceras; anticéptica; eficiente para combater o cancro.” (Cirilo p. 62).
“I-essa cancorosa servi si você tem corimen:to... é se você tem: ... uma problema por
dentro assi... te cura...”(H, f.)
Azevinho [Dim. de *azevo < lat. *acifoliu, *acifolu < lat. aquifoliu.]
Substantivo masculino.1.Bot. Arbusto ou árvore pequena, originária da Europa, da
família das aqüifoliáceas (Ilex aquifolium), de folhas onduladas e irregularmente
espinhoso-dentadas, flores alvas em cimeiras umbeliformes, e drupas globosas,
vermelhas. Fornece madeira para marchetaria, xilografia, bengalas, cabos de
ferramentas, chicotes, obras de torno, e usa-se também no fabrico de figas e
amuletos. A raiz e a casca são emolientes, expectorantes e diuréticas; a casca é útil
contra febres intermitentes e, macerada, dá cola verde resolutiva de abscessos, e
emprega-se como visco para capturar pássaros. As folhas, tônicas, adstringentes,
amargas, sudoríficas, febrífugas, antiartríticas, mostram-se eficazes nas doenças do
estômago e icterícia. [Var.: azevim; sin.: azevinheiro, pau-azevim, sombra-de-
azevim, sombra-de-touro.] ( Aurélio)

Segundo a informante essa planta ajuda a curar qualquer problema interno,
especificando o fim de corrimentos. Dentre os sinônimos estabelecidos por Balbach, no
dicionário Aurélio encontramos azevinho como sinônimo de sombra de touro, que segundo o
dicionário a planta ezevinho combate à febres, artrite, problemas de estomago e à icterícia.
Dessa forma podemos estabelecer o seguinte quadro para sintetizar os semas
correspondentes à esta lexia.
Informante Aurélio Cirilo
Combate artrite - + -
Combate
icterícia
- + -
Analgésica - - +
Diurética - - +
Cicatrizante - - +
Combate
pólipos nasais
- + +
Combate dor no
estomago
- + -
corrimento + - -
Sudoríficas - + -

Capim Cidrera: “(Kyllinga odorata) Família: Ciperáceas. Sinonímia: Capim-de-
cheiro, capim cheiroso, capim marinho, capim limão, jaçapé, jacaré. (Balbach p.532)
“I- é, erva, é... a vei capim cidrera, chapéu di côru...(...)”(8f 2) Capim-cheiroso: Substantivo masculino. 1.Bras. Bot. Erva da família das ciperáceas
(Kyllinga odorata), de aroma semelhante ao da erva-cidreira, e que serve para
perfumar a roupa lavada, fornecendo, também, pela destilação das folhas frescas,
uma essência oleosa muito aromática; capim-santo, capim-cidreira. [Pl.: capins-
cheirosos.] (Aurélio)

O informante cita a utilização das ervas, porém não especifica suas propriedades,
procurando os sinônimos no dicionário Aurélio encontra-se, capim cheiroso, caracterizando o
cheiro agradável que a planta exala. A forma pela qual é mais utilizada é por suas
propriedades calmantes, e as demais propriedades citadas por Balbach são, “usado como
diurético, diaforético, estomáquico, carminativo, antiespasmódico. É bom remédio contra as
afecções das vias urinárias, a histeria e outras perturbações nervosas.”
Cara Carai - quebra pedra: “(Phyllanthus niruri) Família: Euforbiáceas Sinonímia:
Arrebenta-pedra, erva-pombinha, saxifraga (...).” (Balbach p. 770- 772)
“I- não eu nunca tomei pra pressão alta mais pra outra coisa sim bexiga né para E- u
qui qui é bom pra bexiga I- cara carai (E- a sinhóra sabi u nomi dessi remediu nu brasil não)
I- quebra pedra”( O.C.f)
Quebra-pedra [De quebrar + pedra.] Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. V. fura-
paredes (2). [Pl.: quebra-pedras.] fura-paredes[De furar + o pl. de
parede.]Substantivo masculino de dois números. 2.Bot. Planta de caule ereto,
pubescente, carnoso, vermelho, da família das urticáceas (Parietaria officinalis), de
flores polígamas, pequeninas, sésseis, verdes, reunidas em glomérulos axilares num
invólucro comum constituído por uma bráctea e brácteolas, e cujo fruto é aquênio
ovóide, com apenas uma semente preta; erva-de-santana, quebra-pedra.( Aurélio)
O informante a princípio cita o nome da planta em guarani, especificando suas
propriedades diuréticas, e depois indica o nome da planta no Brasil, o dicionário Aurélio
apresenta características físicas da planta, porém, não descreve sua utilização. Segundo
Balbach a planta “dissolve as areias e cálculos. É diurética, fortificante do estômago,
aperiente. Emprega-se nas cólicas renais, cistites, enfermidades crônicas da bexiga, hidropisia,
distúrbios da próstata. Em alguns lugares usa-se as folhas e sementes como remédio
específico contra a diabetes.”
A seguir faremos um paralelo com as informações de Balbach e da informante.
Informante Balbach
Dissolve as areias e
cálculos
- +
Diurética, + +
Fortificante do estômago, - +
Aperiente. - +
Cólicas renais, - +
Cistites, - +
Enfermidades crônicas da
bexiga,
- + Hidropisia, - +
Distúrbios da próstata - +
Diabete - +
Pressão Alta + -

Carqueja: “(Baccharis triptera, Baccharis genistelloides, Cacalia amara, Cacalia
decurrens) – Família: Compostas. Sinonímia: Cacália- amarga, quina- de- condamine,
vassoura, carque.- ( Balbach p.543)
“é pra curA marcelia carqueja é pra curA se tiver com dor de barriga dor de
estomago podi toma que cura mesmu” (V.C, f)
Carqueja[Do lat. colocasia, poss.] Substantivo feminino.1.Bras. MG SP RS Bot.
Designação comum a várias plantas arbustivas, da família das compostas,
pertencentes ao gênero Baccharis, de flores insignificantes, fruto aquênio, e com
propriedades medicinais.(Aurélio)

A informante explica a utilização da carqueja combinada com macela para curar dor
de estomago, o dicionário Aurélio apresenta apenas as características físicas da planta e cita
suas propriedades medicinais. E de acordo com Balbach “emprega-se em forma de chás, nos
casos de anemia; cálculos biliares; diarréia; enfermidades do baço, da bexiga, do figado, dos
rins; má digestão; má circulação do sangue; icterícia; inflamação das vias urinárias; diabetes;
hidropisia; vermes intestinais.”
Informante Balbach
Anemia - +
Cálculos biliares - +
Diarréia - +
Enfermidades do baço - +
Enf.da bexiga - +
Enf.do figado, - +
Má digestão + +
Má circulação do
sangue
- +
Enf.dos rins - +
Icterícia - +
Inflamação das vias
urinárias
- +
Hidropisia - +
Vermes intestinais - +
Diabetes - +

Cepa Cavalhu -Espinhu de Carneiru : “Carrapicho grande (Triumfetta althaeoides)
Família: Tiliáceas. Sinonímia: Malva-preta ( Belém), Carrapicho-liso.” ( Balbach p. 546) “cavalhu é em guarani mas en português é:::espinhu de carneiru é espinhu de carneiru
(...) I – cepa cavalhu diz que é pra afiná sangue [é refresCANte]” E.L.m
Espinho-de-carneiro Substantivo masculino. 1.Bras. BA a RS MT Bot. Designação
comum a várias plantas da família das compostas e das gramíneas, pertencentes aos
gêneros Xanthium e Cenchrus, respectivamente; amores-de-negro, carrapicho-
grande, capim-roseta, roseta. [Pl.: espinhos-de-carneiro.] (Aurélio)
O informante primeiro relata o nome em guarani, para então, especificar que trata-se
de espinho de carneiro, que além de possuir um sabor agradável por ser refrescante, para o
informante a erva afina o sangue, e segundo Balbach, combate a corrimentos, o dicionário
apresenta a família a qual a planta pertence e suas características físicas, porém não especifica
suas propriedades medicinais.
Chapéu de Couro: “(Echinodorus macrophyllus) Família: Alismatáceas- sinonímia:
chá mineiro, chá-da- campanha, erva-do-brejo, erva-do-pântano.” ( Balbach p. 566)
“I- é, erva, é... a vei capim cidrera, chapéu di côru...(...)”(8f 2)
Chapéu-de-couro [Var. de chapéu-de-coiro.] Substantivo masculino.1.S. Erva ereta
e ornamental, da família das alismatáceas (Echinodorus macrophyllum), cujos frutos
contêm apenas uma semente, cujas flores são tidas por medicinais, e que vive em
terrenos pantanosos de águas rasas; chá-da-campanha, erva-do-brejo, erva-do-
pântano.(Aurélio)
O dicionário Aurélio cita as propriedades medicinais da planta, mas não as especifica,
o informante afirma apenas utilizar a planta, porém, não explica sua utilidade, enquanto
Balbach explica que;
tem aplicação, com bons resultados, nos casos de: ácido úrico, artritismo, catarros
das vias urinárias, dermatoses edemas, erupções cutâneas, gotas, hidropisia,
impurezas do sangue, ingurgitação do fígado, litíase, nefrite, nevralgia, reumatismo,
sífilis. É também diurético e levemente laxativo.(p.566)

Cipó-Mil-Homens “(Aristolochia raja) Família: Aristoloquiáceas Sinonímia: Jarrinha-
arraia, raja- A raiz encerra propriedades emenagogas.” ( Balbach p.573)
“I- No principalmente o remédio assí que a gente toma mais tem variados, né... tem o
milombre... (...) milombre, aquel lá, essa aí é u cipó, tem tamém aotros tipos de milombre que
é da raiz, aquele lá é amaaargo pra caramba ( risos), aquele lá é bompra você quando tem
cólica, toma aquele qualquer ceces uma comida faz mal, né... aquiele lá coloca e ferve bem,
aí... dói, trei...doi, trei gole... ingule já manda pra fora o que tiver...já fica bom depoi.”(8m2)
Cipó-mil-homens Substantivo masculino. Bras. N. Bot.1.Designação comum a
várias trepadeiras ornamentais, da família das aristoloquiáceas, cujas flores
apresentam formações e cores exóticas, e com algumas espécies consideradas
medicinais; jarrinha, jarrinha-preta, jarrinha-arraia, mil-homens, mil-homens-do-rio-
grande-do-sul, batatinha, flor-de-sapo.
2.V. serpentária. [Pl.: cipós-mil-homens.] ( Aurélio)
Balbach especifica as propriedades emenagogas da planta, o informante caracteriza
que há mais de um tipo de cipó e confirma os benefícios que a planta, mesmo não possuindo
um sabor tão agradável, traz principalmente para as mulheres dizendo que combate à cólicas e
ainda que é bom para o estomago, ao provocar vomito. O dicionário Aurélio também explica
que podem existir várias espécies e que nem todas podem ser utilizadas como remédios.
Ainda podemos ressaltar a interferência na fala do informante que utiliza elementos da sua
língua materna.
“Cocũ- bot. Nome de uma planta da fam. Das sapindáceas.” ( 46 Tibirçá )
“I- cucum i::: de manhã cedu eu eu variu... remediu” Cocum: pérta guéla: Perta-
güela (Gomidesia affinis)
O Cocũ como podemos notar possui sua referência em guarani, a esposa do informante
nos deus a referência como sendo Perta Güela, essa planta tem característica de adicionar um
sabor refrescante ao tereré.
Segundo dados do projeto Karumbé, o correspondente de Kokũ é Fruto-de-pombo,
que pertence à família das sapindáceas, seus sinônimos podem ser, três - folhas, erva-do-
faraó, fruta do pombo, baga-de-morcego, vacum, vacunzeiro, murta-branca. Essa planta pode
combater doenças do fígado, ajudar na digestão, problemas nas vias biliares, assim como a
icterícia e doenças hepáticas.
Buscando os sinônimos no dicionário não há correspondentes da mesma família da
planta citada em guarani e o informante não explica se conhece as propriedades medicinais da
planta.

Cordão de São Francisco: “(Leonotis nepetaefolia) Família: Labiadas. Sinonímia:
Cordão de frade, pau de praga, rubim. ( Balbach p. 586)
“I-otru di:a pra dor quandu to cum muita dor nu corpu:: da coluna du juelhu aí eu
ponhu é: cordão di São Franciscu...”( T, f)
Cordão-de-frade Substantivo masculino. 1.Bras. Bot. Designação comum a várias
plantas de caule herbáceo, da família das labiadas, com propriedades medicinais, de
flores grandes, alvas, amarelas, vermelhas ou roxas, e cujo fruto é aquênio; catinga-
de-mulata, cordão-de-são-francisco, pau-de-praga, rubim. [Pl.: cordões-de-frade.]
A informante especifica o uso da planta para dores no corpo, o que provavelmente
caracteriza o reumatismo que o qual um dos sintomas são dores no corpo e diminuição dos
movimentos, e que segundo Balbach a planta combate à essa doença “emprega-se nos acessos
de asma, na disúria, no reumatismo. Boa planta para eliminar ácido úrico”. No dicionário
encontramos apenas suas características físicas. Folha de Amora: “As folhas de amoreira preta constituem um remédio popular. São
empregadas contra a diabete pelos habitantes da Península Balcânica. Recentes
inverstigações... tendem a provar que sua reputação como medicamento hipoglicemiante se
justifica” (Dr. J.M. Arroyo, apud Balbach 104)
“E – Pra que qui serve a folha de amora? I – [pra pressão alta]” E.L,m
Amora-vermelha Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. Arbusto da família das rosáceas
(Rubus rosaefolius), originário da Ásia tropical, e cujo fruto é drupáceo e
comestível; framboesa. [Pl.: amoras-vermelhas.]
A amora é mais conhecida pelo seu saboroso fruto como mostra a definição dada pelo
dicionário Aurélio. A informante especifica o uso de suas folhas para combater a pressão alta,
já Balbach confirma suas propriedades contra o diabetes.
Jamelão- “(Syzygium jambolanum) Família: Mirtáceas- Sinonímia: Jambol, jambul,
jambolão, jalão.” ( Balbach, p.670)
“I-é... dizque bom pra trigliceris i eu tenhu dis/triglicere alta... i éemagrecedor
tamem”( E.L.
Jamelão [Var. de jambolão < concani jambulam.] Substantivo masculino.
1.Bras. Bot. Árvore da família das mirtáceas (Eugenia jambolana), originária da
Ásia e muito vulgar entre nós, de folhas oblongas e coriáceas, flores com numerosos
estames, e cujo fruto, comestível, é uma baga que expele um corante violáceo;
jambolão, jalão.
Essa planta também é conhecida, principalmente, pelo seu fruto, na definição do
dicionário Aurélio encontra-se suas características físicas da planta e do fruto, porém
nenhuma referencia às propriedades medicinais. informante afirma utilizar a planta para
emagrecer e para combater a trigliceris, Balbach afirma que “as sementes são muito úteis nas
diabetes açucaradas, duas a três vezes por dia. (...). A casca da arvore é empregada na
disenteria, hemorragia e leucorréia.”
Hortelã /Menta: “(Mentha piperita)- família: Labiadas. Sinonímia Hortelã- pimenta,
menta (países de fala castelhana)- Na hortelã estão reunidas, em elevado grau, as propriedades
antiespasmódicas, carminativas, estomáquicas, estimulantes, tônicas, etc. (Balbach p. 657)
“I- (...) hortelã, menta... esse aí que a gente coloca...”(8m2)
Hortelã [Do lat. tard. hortulana, com dissimilação.] Substantivo feminino.
Bot.1.Erva rasteira da família das labiadas (Mentha viridis), cujas morfologia e
propriedades se assemelham às da hortelã-pimenta (q. v.).
2.V. levante2 (3).
Menta [Do gr. mínthe, pelo lat. mentha; tax. Mentha.] Substantivo feminino.
Bot.1.Gênero de plantas herbáceas da família das labiadas, dotadas de pequenas
flores alvas ou róseas, de corola quase regular e quatro estames iguais, e que
fornecem óleos aromáticos voláteis.
2.Qualquer espécie desse gênero, como, p. ex., a Mentha sativa, que é a hortelã
comum, cultivada em hortas para tempero ou condimento, e que tem, ainda, uso
medicinal, e a M. piperita (v. hortelã-pimenta).
3.Qualquer espécime desse gênero. O dicionário descreve hortelã e menta como duas variedades de planta,
complementando que qualquer espécie do gênero pode ser chamada de hortelã, e afirmando as
propriedades medicinais, condimentícias e aromáticas que as plantas dessa espécie possuem.
Balbach descreve como sinônimos afirmando que, “Na hortelã estão reunidas, em elevado
grau, as propriedades antiespasmódicas, carminativas, estomáquicas, estimulantes, tônicas,
etc.” o informante apenas cita a utilização da planta e não explica o porquê de seu uso.

Macela: “(Matricaria chamomilla, Chamomilla vulgaris) Família: Compostas –
Sinonímia: Camomila, camomila-dos-alemães, matricária, camomila-da-alemanha.” (Balbach
p.523-525)
“marcela é muitu bom tem um cheirinhu muitu bom né tem um florzinha amarelo
muita genti conheci marcela issu ai é muito bom pro estomago dor de barriga né nu mate
esse já é pra tir a dor” (V.C,f)
Macela [De or. obscura.] Substantivo feminino. 1.Bot. Designação comum a
diversas ervas da família das compostas, como, p. ex., a Achyrocline satureoides ou
macela-do-campo, e a Achyrocline alata, perene, ereta de até 1,20m de altura, tb. us.
na medicina caseira. [Var.: marcela.]
Camomila [Do b.-lat. camomilla < gr. chamaímelon.] Substantivo feminino.
1.Bot. Designação comum a diversas plantas da família das compostas, das quais as
mais importantes, por seu emprego na farmacopéia universal, são a camomila-
romana (Anthemis nobilis) e a camomila-dos-alemães ou matricária (Matricaria
chamomilla). [Var.: camomilha.]
O dicionário coloca macela e camomila como duas variedades, porém, que podem ser
designadas do mesmo jeito, por pertencerem a mesma família, citando suas propriedades
medicinais.
Balbach coloca como sinônimos e explica que, “A camomila é indicada na dispepsia,
perturbações estomacais em geral, diarréia, náuseas, inflamações das vias urinárias, regras
dolorosas”.
Enquanto a informante confirma o que Balbach afirma ao dizer que utiliza a erva para
dor no estomago.
Mbaracajá Nambi- “baracadiá nambi” (mbaracajá nambi- bot. Orelha de gato, planta
da qual se extrai um azeite balsâmico que serve para curar feridas e queimaduras. Tibiriçá) -
Orelha de gato- “Hypericum connatum) família: Gutíferas-( Balbach p. 735)
“I- I... remédio ai porerremplo... ( ) notro lhamamos baracadiá nambi porerremplo.”
( 4m2)
Orelha-de-gato Substantivo feminino. 1.Bras. S. Bot. Erva da família das gutíferas
(Hypericum connatum), de folhas ovadas ou suborbiculares, coriáceas e dotadas de
pontoações negras, flores ordenadas e cimeiras paucifloras, amarelas, e cujos frutos
são cápsulas. [Pl.: orelhas-de-gato.] No relato desse informante podemos ver claramente a interferência lingüística em que
o informante utiliza a correspondente em guarani para citar as plantas que costuma tomar no
tereré, buscando primeiro em um dicionário de guarani encontramos a correspondente orelha
de gato que segundo o autor o óleo retirado da planta cura feridas e queimaduras, o dicionário
Aurélio faz a descrição física da planta e do seu fruto, já Balbach explica que “O decoto desta
planta é bom remédio contra as anginas e dores de garganta.”
Pariparoba: “Piper umbellatum, Piper sidefolium,Piper hilarianum, Piper peltatum,
Piper macrophyllum, Cisampelos caapeba, Piperonia umbellata, Heckeria umbellata,
Potomorphe umbellata, Heckeria umbellata, Potomorphe umbellata)- Família: Piperáceas.
Sinonímia: Capeua, aguaxima, malvaísco, malvarisco, caapeba, caapeba-do-norte, caapeba-
verdadeira, catajé.”( Balbach 744)
“I- Tem a erva ali que a gente coloca é principalmente aqui a gente tamu ussando que
no da.. picão, ali... tem ali aquele pariparoba.... folha larga assí, tem ali poejo. Tem a lá o
hortelã, menta... esse aí que a gente coloca...”(8m2)
Capeba “[Var. de caapeba.] Substantivo feminino.1.Bras. L. Bot. Planta da família das
piperáceas (Piper rohrü), dotada de flores em amentos e bagas glabras; pariparoba,
periparoba.”(Aurélio)
O dicionário descreve a planta e apresenta seus sinônimos assim como o informante, porém não explicam suas propriedades medicinais, que segundo Balbach, “As folhas são emolientes, desobstruentes, diuréticas, resolutivas, antiblenorrágicas e tônicas”

Picão: “Picão da praia ( Melampodium divaricatum, Plumbago littoralis) Família: Compostas Sinonímia: Carrapicho- da-praia, salsa- da- praia. ( Balbach p. 756)

“I- Tem a erva ali que a gente coloca é principalmente aqui a gente tamu ussando que no da.. picão, ali... tem ali aquele pariparoba.... folha larga assí, tem ali poejo. Tem a lá o hortelã, menta... esse aí que a gente coloca...”(8m2)
picão1

5.Bras. Bot. Designação comum a várias ervas da família das compostas,
como, p. ex., a Cosmos sulphurens, de folhas opostas, caule piloso, flores amarelas dispostas em capítulos e frutos aquênicos (vulgarmente conhecida como picão-açu, picão-uçu, picão-de-flor-grande e picão-do-grande), e a Bidens graveolens, de caule lenhoso e glabro, folhas sésseis, oblongas, flore amarelas dispostas em capítulos
paniculados, e que tem o nome vulgar amor-de-negro. ( Aurélio )

O informante também cita o uso da planta, mas não especifica porque, o dicionário descreve os aspectos físicos da planta seus sinônimos e nome popular, já Balbach explica suas propriedades medicinais; “Planta útil nas flatulências acompanhadas de cólicas do estômago e
intestino, nas afecções do peito, na tosse, no reumatismo articular e muscular, nas palpitações, nas vertigens, na erisipelas, na icterícia, na anúria.” Poejo: “( Mentha pulegium, Pulegium vulgare, Cunila Microcephala)- família: Labiadas. Sinonímia : Erva de são ourenço. ( Balbach p.765)

“I- Tem a erva ali que a gente coloca é principalmente aqui a gente tamu ussando que no da.. picão, ali... tem ali aquele pariparoba.... folha larga assí, tem ali poejo. Tem a lá o hortelã, menta... esse aí que a gente coloca...”(8m2) Poejo [Do lat. pulegiu, puleiu.] Substantivo masculino. 1.Bot. Erva da família das labiadas (Mentha pulegium), cultivada no Brasil como planta aromática, de delgados ramos prostrados e folhas pequenas, fortemente odoríferas quando esmagadas, e que cedem um óleo rico em mentol. A reprodução é vegetativa, por meio de pedaços de ramos.( Aurélio)

O dicionário além de fazer a descrição física da planta destaca suas propriedades aromáticas, o informante novamente não especifica as propriedades medicinais da planta, dessa forma, vejamos a definição de Balbach, “usa-se para acidez e ardor do estômago, afecções das vias respiratórias, arrotos, catarro em geral, debilidade geral, debilidade do
sistema nervoso, diarréia, enjôo, estorvos no estômago e intestinos, fermentações, hidropisia, insônia, irregularidades na menstruação, tosse, ventosidade.” Umbaúba: “( Cecropia peltata; Cecropia palmata) Família: Moráceas Sinonímia: Imbaíba, ambaíba, arvore – de - preguiça, barbeira, torém, embaúba. (Balbach p. 831-834)

“ I- cucum i::: de manhã cedu eu eu variu... remediu tem veis quieu ponhu folha di jamelão cum folha di... baúba abai (E- pra que qui serviessas duas folhas?)I-é... dizque bom pra trigliceris i eu tenhu dis/triglicere alta... i éemagrecedor tamem” T.G, f Umbaúba: [Var. de ambaíba (q. v.).] Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. Designação
comum a várias espécies do gênero Cecropia, da família das moráceas, que se caracterizam pelo tronco indivso, com grandes folhas digitadas no ápice, e pelas flores mínimas agregadas em espigas muito apertadas. O gomo terminal é grande e protegido por amplas estípulas, constituindo o alimento preferido das preguiças; abriga também formigas agressivas. [Outras var.: ambaúba, embaíba, embaúba, imbaíba, imbaúba; sin.: árvore-da-preguiça, torém.] (dicionário Aurélio) A informante relata que esta planta combinada com outras ajuda no emagrecimento e
para trigliceris, o dicionário além da descrição física e dos sinônimos da planta cita a preferência das preguiças e também das formigas pelos frutos dessa arvore, característica que gerou um dos sinônimos dessa lexia, arvore de preguiça. Vejamos o que Balbach diz com
relação as suas propriedades medicinais “o decoto da casca é diurético, tenífugo e vulnerário.”

Unha de Gato: “( Bignonia ungüis-cati)- Família: Bignoniáceas- Sinonímia: cipó-de-gato, cipó-de morcego, hera-de- são-domingos.- ( Balbach, 834-835) “I-unha de gatu bom pru rim...pra::: figadu... pra::: bichiga” ( H,f) Unha-de-gato Substantivo feminino. Bras. 1.Bot. Designação comum a várias espécies dos gêneros Mimosa e Acacia, da família das leguminosas, providas de acúleos pungentes que rasgam a roupa e ferem a pele com facilidade. O dicionário explica que esta denominação é comum à várias espécies que recebem esse nome provavelmente por assemelhar-se a uma unha de gato já que como afirma o dicionário pode até rasgar uma roupa e ferir a pele. De acordo com a informante essa planta ajuda no funcionamento dos rins, do fígado e da bexiga, o que Balbach confirma, “Tem propriedades diuréticas, anti-reumáticas e
antisifiliticas”.

Para sintetizar os dados referentes às plantas citadas e as suas funções, de acordo com o relato dos informantes, elaboramos a tabela à seguir.

Semas

Lexias Previnir Curar emagrecer Dor de
estomago
Afinar
o
sangue
Bexiga corrimento figado Pressão
alta
refrescante rim colesterol Dores
no
corpo
Cancrosa

X - - - X - X - - - - - -
Capim
Cidrera

- - - - - - - - - - - - -
Cara Carai - - - - - X - - - - - - -
Carqueja:

X X X - - - - - - - - -
Cepa
Cavalhu

- - - - X - - - - X - - -
Chapéu de
couro

- - - - - - - - - - - - -
Cipó-Mil-
homens

- - - - - - - - - - - - -
Cocũ

- - X - - - - - - X - - -
Cordão de
São
Francisco

- - - - - - - - - - - - X
Folha de
Amora

- - X - - - - - X - - X -
Jamelão

- - - - - - - - - - - X -
Hortelã

- - - - - - - - - - - - -
Macela

- X - X - - - - - - - - -
Mbaracajá
Nambi

- - - - - - - - - - - - -
Pariparoba

- - - - - - - - - - - - -
Picão

- - - - - - - - - - - - -
Poejo

- - - - - - - - - - - - -
Umbaúba

- - - - - - - - - - - - -
Unha de
Gato

X - - - - X - X - - X - -

A tabela a seguir relaciona o nome de algumas plantas em português e seus correspondentes
em guarani

Guarani Português
Ambay Umbaúba
kangorosa Cancorosa
Jaguarete Ka’a Carqueja
Jaguarundy Pariparoba
Jate’i ka’a Marcela (erva de jatei)
Kokũ Fruto-de-Pombo
Ysypo Milhombres Cipó-Mil-Homens
Fonte: Projeto Karumbe, Ano VIII- Design- Cecy Fernandes de Assis- Diagramação-
Luiz Carlos Pinho de Assis- Ka’ avo Pohã 2005

Considerações finais

Nota-se que de fato o paraguaio utiliza uma considerável variedade de ervas, que não
só atribui um sabor agradável à sua bebida, mas também, propriedades terapêuticas.
Em síntese as plantas servem tanto para curar quanto para prevenir, segundo os
informantes as plantas são utilizadas para; emagrecer, para dores de estomago, afinar o
sangue, pressão alta, problemas na bexiga, no fígado, rins, colesterol, dores no corpo e, ainda,
como refrescante, sendo que uma mesma planta pode atingir à várias deficiências do
organismo.
A mistura de várias plantas que corresponde ao remédio refrescante ou jujo é utilizada
apenas de manhã já que abaixa a pressão, sendo que, em outros horários é utilizada uma ou
outra planta, respectivamente.
Com base nas referências específicas relacionadas às plantas medicinais constatamos
que, de fato os informantes conhecem as propriedades essenciais das plantas e que este
conhecimento não surgiu por meio de estudos bibliográficos, mas foram adquiridos por seus
pais que porventura adquiram com seus avós e assim por diante. Além disso, os efeitos dessas
plantas denotam também à crença em forças sobrenaturais, um exemplo disso é a devoção que
a maioria dos paraguaios tem na virgem de Caacupe.
Dessa forma, percebe-se que em um costume no qual nos habituamos e nem
questionamos suas origens estão inseridos elementos imperceptíveis se não forem analisados
minuciosamente e, os campos semânticos podem ser bem mais amplos do que se imagina.

É importante ressaltar que, mesmo em entrevistas com informantes que residem há
muito tempo no Brasil a interferência lexical fica evidente, já que, em algumas entrevistas
primeiramente é citado o nome da planta em guarani, essas dentre outras interferências
ocorrem naturalmente na fala desses imigrantes sem que os mesmos se dêem conta deste
fenômeno lingüístico. Dessa forma, pode-se dizer que é sem duvida alguma a linguagem o
melhor e maior veículo de compreensão do ser humano e de seus costumes.
Assim o tereré e o mate revelam no paraguaio não só o aspecto social e cultural, mas
envolve também uma rede de significações, onde a fé as acepções de vida e saúde também se
manifestam.

Referências


BALBACH, Alfons. A flora Nacional Na Medicina Doméstica-. 19ª ed. São Paulo. Editora
M.V.P. Vol.II.
CIRILO. Manual Ampliado de Plantas Medicinais, 27ª Edição, Editora: ASSESOAR, PR.
1986
FERNANDES, S.S.G.2008 ESTUDO DO VOCABULÁRIO RELATIVO ÀS
DEVOÇÕES RELIGIOSAS DOS PARAGUAIOS CATÓLICOS RADICADOS EM
MATO GROSSO DO SUL. Trabalho de Iniciação Cientifica Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul.
Remédios
naturais Fé
sociedade
paraguaios
tereré Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª. Edição, 1ª. Impressão da Editora Positivo,
revista e atualizada do Aurélio Século XXI, O Dicionário da Língua Portuguesa.
TIBIRIÇÁ, Luiz Caldas. DICIONÁRIO GUARANI PORTUGUÊS, São Paulo, Traço
Editora, 1989.
WOORTMANN, K. A. O sentido simbólico das práticas alimentares. 1º Congresso
Brasileiro de Gastronomia e Segurança Alimentar, Universidade de Brasília, 2004.

SEGUE O ARQUIVO EM PDF: https://periodicos.uems.br/index.php/enic/article/view/2096


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